Dar a mão em silêncio

Ontem sentia ainda o teu abraço apertado,
e a tua carícia.

Hoje,
agarraste a minha mão com a força de não me deixar partir
abriste os olhos e miraste as minhas feições para não me esqueceres
disseste adeus. Sem palavras. Sem som. Apenas.

A vida que não era já vida roubou-te a cor
tirou-te o ar
cortou-te a voz.
Ficaste apenas contigo em silêncio. Em dor. Em solidão.

Fomos, juntos, de mãos dadas, dizer-te um adeus que nunca será final.
Fomos, juntos, cheios de memórias conduzir o corpo que te atraiçoou para a terra.
Somos, juntos, o porto de abrigo familiar que sempre foste.

Foste, és, serás sempre, uma memória quente de cheiro a torradas pela manhã.

Amanhã
estamos aqui, sem ti, com a Terra ainda a rodar.

Meeting

I once met a woman
Her energy calm, serene, like an archaea when drifting down the riverbed

I once met a woman
She was light yellow, she was blue with green nuances

I once met a woman
She had a mind, a strength like the sea when retracting before a wave

I once met her and I felt seen

I once met a woman
She was able to hear me even when I was muted

I once listened to her dancing and saw the twirling of colors she left on the water

I once met a woman
and read her, searching for my meaning

I once felt her laugh even with my eyes closed

I once met a woman
that had the power to change my life
and she did

I once met you
and I’m thankful.

Dias que são anos

Foste um tudo.

Tudo o que poderia ter pedido, ou pensado.
Foste amor.
Foste amado.
Foste um pedaço de futuro que me deram a ver.

Farás parte de mim como algo bondoso e lindo que tive a oportunidade de viver.

És um homem com um coração tão grande como a incerteza em que vives, e isso torna-te único e especial.

Lembras-te como me bastava olhar para ti e sorrir?
Será assim sempre que te recordar.
Que me lembrar do cheiro da tua pele e da forma como me agarravas sem me querer deixar ir naquela tarde.

As minhas mãos não perderão os contornos do teu corpo.
E os meus olhos irão sempre recordar a forma como os teus os tocavam.

Não poderei nunca pedir mais do que aquilo que me fizeste sentir, neste conjunto de dias que pareceram anos.

Tua, enquanto fores meu.
Todas as partes de mim te pertenceram.
E agora voltamos a ser dois.
E cada um pertence a si mesmo de novo.

Deixei em ti um pedaço do meu coração.
Promete-me que o guardas…

Novas linhas

Sem aviso,
Sem localização espácio-temporal.

Tinha tudo memorizado, planeado e delineei o que queria para mim.

E não sabendo como, os teus olhos fizeram-me sentir diferente.
Querer estar perto do teu calor e deixar-me ser olhada por ti.
Não usar as palavras com medo de estragar o nosso respirar.
Fazer desaparecer tudo dentro de um beijo.
Naquelas mãos que me fizeram sentir que era tudo…

As mesmas que me largaram e me deixaram vazia.

São as tuas mãos que as minhas procuram.
O teu agarrar que me encontrou, é o que quero sentir, sempre.

Tudo o resto se tornou secundário.
Até que eu vi.
A poeira que nos rodeava foi soprada e sobrámos apenas nós. Frente a frente.
Eram os mesmos olhos.
Aqueles que me diziam repetidamente que era eu.
Foram ultrapassados pelos lábios que me diziam que eu não era suficiente.

Os lábios que acariciaram os meus, agora destruíam o que acreditava, o que sentia.
Enquanto o teu corpo lutava para dizer o contrário, e as tuas mãos forçavam o caminho até ao meu corpo, onde não me queriam deixar.

O meu cabelo deixou de ondular.
As minhas mãos soltaram-te.
Os meus lábios deixaram de procurar a tua pele.

Marca

São os teus olhos.
Ou a cor do teu cabelo.
Ou a forma como seguras o queixo enquanto me ouves a falar.
Talvez seja o teu cheiro, esse teu cheiro…
Ou o formato dos teus lábios.
As tuas mãos.
Ou a forma como contas tudo detalhadamente pormenorizado.
Ou serão os teus olhos, já os mencionei?!
A forma como olhas para mim, quando pensas que não reparo.
Não consigo parar de te rever em mim. Outra e outra vez.
E o pior é saber que és tu.
E não poder fazer nada.
Não poder avisar-te. Que sou eu.

Embrace

Qualquer coisa, tenho de dizer qualquer coisa.
Tenho de estar aqui, agora.
De te fazer ver que estou aqui, e que na verdade nunca me fui embora.
(Apenas tapei a tua imagem).

A antecipação causa-me calafrios.
O antecipar das tuas palavras,
De ver os teus lábios mexerem.
De sentir o teu cheiro de novo.

Como se tivesse sido ontem.
Como se me tivesses tido nos teus braços ontem à tarde.
Como se ainda me quisesses.

Estás mais à frente no caminho?
Posso correr a alcançar-te?

 

Desabraçar

Fecho os olhos.

Tento reter a memória do teu cheiro.
O teu cheiro nos meus lábios.
As tuas mãos enlaçadas em mim. Como se não me quisesses largar.
Querias?

Podíamos ficar fechados em nós.

Com o teu cheiro e o teu cabelo nas minhas mãos.
A tua fragilidade no meu ombro.
Esse teu lado vulnerável que aos poucos me dás para me deixar cuidar.

Sua-me de ti

E assim ficou fechado.

Já tinha alimentado o teu lado defensivo o suficiente para que o carinho das palavras passasse sem se ver.
Foste pouco, ou assim te senti.

Culpaste muros, pedras e a mutação.
Mas a culpa era deste vazio que achavas cheio.
Senti um sopro no seu interior quando me despedi.
Senti-o a sério.

Ás vezes penso que serei confusa com as letras, pois não me leêm como me escrevo.
Coloco letras a mais, será isso…

O viver num labirinto de edificios sem fim, deixou-te sombreado. E lá longe. Onde acho que sempre estiveste. Na terra do mar e das conchas.

Não leste o convite para jantar? O convite da viagem? O convite de volta?
Estavam lá, com todas as palavras e sorrisos de convocação.
Mas perco-me às vezes entre o bom e o mau.
Mea culpa.

Foste tu quem me fez sorrir no meio deste tempo.
Mas decidi ser “egoísta” e achar que não era suficiente.

Cena oclusa.

Vai querido, que o meu beijo te enlace…

Trocaste-me o ar pelas palavras.
O vazio por te imaginar.
Por vezes as tuas palavras saíam como que uma bola de golfe contra a janela, outras faziam-me mingar de ignorância,
mas não consegui largar-te os dedos.
Aqueles dedos que nunca entrelaçaram os meus, aqueles que nunca me tocaram.

Soltavas como um balão palavras de outros que preenchiam as nossas.
E contaste-me histórias que não percebia se eram tuas ou reais.

Queria que o fossemos, mas não tive forças.
Nem para tentar, nem para o dizer.
Esperei que o lesses e que me encontrasses, mas não poderia ser uma luta de um homem só.

Enche-me de angústia saber o final de tudo,
o final que vou escrever.

Vou escorregando sem dares conta.

De forma lenta e viscosa por entre as tuas mãos.
No final é como se nunca tivesse existido,
não ficarão provas,
verás.

A metade que era dele

Sei que era ela.
Tenho a certeza.
A minha mulher, a minha metade, o meu coração.
Deixou-me, largou-me no chão. Sem ela.
Ela que era tudo e que me deixou a ser nada.

Vazio.
Dormente.
Não sei ser.
Apenas sei ser o que era perto dela, junto do cheiro dela, da pele dela.

Sinto as paredes a fecharem-se em mim.
As palavras que me enchem, dizem-me para a deixar ir, mas tudo em mim luta pelo contrário.

Sei que és tu.
Tenho a certeza.
Podias ter sido a minha mulher, a minha metade. O meu coração esse, já o destruíste.
Deixaste-me, largaste-me no chão. Sem ti.
Podias ter sido tudo.

Eu vou ser eu, de novo.
Vou voltar a sê-lo.
Podias ter sido o meu tudo…
Mas demoraste a vê-lo. E apressaste-te a tê-lo.
Já não me pertences.