Contrariar: Estar ou agir em contradição consigo próprio.

Os pedais da bicicleta articulam o movimento a favor do relógio.
O mofino espreita pela sombra. Persegue-me.
Olho-a. Quero-a. Luto contra mim.
Não posso deixar o meu capricho materializar-se.
É errado.

Sabe bem.

É perfídia.

O mais inocente gesto leva os meus olhos para a imaginação.
Não a posso querer.
Não é correto.

Desejo-a.
Quero que me deseje.
Sei que me deseja.

Paro.
Paro-a.
Paro-me.

Paramos na realidade.
Somos outros nos nossos sonhos.

 

Sonhos e músicas

Fechei os olhos, com as tuas palavras ainda nos meus ouvidos.
Fechei-os e não pensei.
O meu sonho trouxe-te. E contigo a análise da nossa conversa e das minhas palavras contidas.

Conforme expliquei, é inato.
Acontece, mesmo fora do meu consciente.
A tentativa de controlar o mundo que me rodeia e todos os meu passos, persegue-me.

Quando as minhas mãos te contornaram, não pensei.
Quando te senti, não pensei.
A consequência? Deixei acontecer.
Claro que já o tinha realizado na minha cabeça.
Expetativas? Não as ponderei.

A nuvem que pairou sobre mim, enquanto dormia, trouxe-te como meu.
Gostei de o sentir. De te sentir perto de novo.
De me sentir tua. Teu pertence.

Mas a nuvem foi soprada pelo Michael, que me acordou.

E se as cordas que nos entrelaçam a todos sejam para nunca mais?
Pergunta o Darko e pergunto eu também.
Onde fica o nunca mais? E se não te encontrar lá?

Não coleciono arrependimentos, mas não consigo deixar o passado para trás.
Carrego-o todos os dias.
Fartei-me do meu coração e decidi recomeçar.
Estou a fazê-lo.
Vamos ver como corre.

Pode ser que um dia tudo acabe…

E não o tenha eu visto noutra altura. Perdi-te.
E desta vez não teve a minha mão.

Talvez tenha sido isso…Não to disse.
Não te deixei saber.
Talvez.
Mas agora não o vou saber.
Vou lentamente sair de cena, conforme o Boticário de Romeu e Julieta, tão repentinamente como quando entrei.
Nunca foste um nada para mim, deves sabê-lo.
Mas também nunca quis assumir que fosses alguma coisa.
As palavras que deverás colar na tua parede devem exprimir o orgulho que deves ter em ti. Pelo que és. Pelo que estás a tentar ser. Pelo que sabes que sempre foste.

A corda da guitarra soltou-se e atingiu-me no nariz.
Conforme Battelle, buscarei em outro o conforto que me davas.

Acredito em finais alternativos.
E por vezes prendo-me na insolência das voltas da vida.
Mas nunca irei parar de defender que traçamos o nosso caminho e que andamos, mesmo sabendo que existe um final, apenas com a esperança de não o percorrermos sozinhos e de termos alguém ao nosso lado para testemunhar as nossas aventuras.

Olha! Consegues vê-lo a correr? É o cachorro. Aquele do outro dia.
Vou atrás dele.
Quem sabe onde vai?!
Repara, um dia, ele vai parar de correr, eu sei.
Mas hoje. Agora. Quero saber onde me pode levar.

Lembraste do que escreveu Einstein? É provável que não. Não te censuro.
“Pode ser que um dia tudo acabe…” Sabes o resto?
Nós vivemos o resto. Encaixamos nas palavras.
São como meias. Servem-nos perfeitamente.

Menti-te.
Não foi apenas o teu cheiro.
A forma como passas a mão pelo teu cabelo, a forma como franzes o nariz quando não percebes o que quis dizer, a maneira de a tua boca se mover quando mentes e sobretudo a leitura fácil que fazes de mim, sem te aperceberes.

Fazes as palavras correr dos meus dedos, como outros.
Mas não saem apenas da minha cabeça.

Imagina se eu fosse assim na Realidade.
Na realidade dos outros. Fora da minha cabeça. Não resulta, já o fiz. Ninguém é assim. Não se explica o sentido da vida por metáforas, ou se tem medo da nossa própria sombra no escuro.
Aqui sou isto.
Lá fora, sou e sempre serei, apenas, “a outra”.

Desmoronamento

A montanha desmoronou-se.
E eu assisti quieta à queda de cada pedra.

A essência do rochedo original, já deteriorado, revelou-se. Mais uma vez.

Faz parte.
As construções novas surgem enquanto observamos o deslizamento de encostas.

Angustiou-me como se te tratasses de qualquer outro sitio.
Deixaste de ser o meu lugar favorito. O meu local de abrigo.

Encontrei-me.
E sim, por vezes o amor não é suficiente.
Já não estou triste, já não choro. Posso ser “demais” noutro sitio, sabendo sempre que existe um final.

Deixei a floresta que construíste o teu cume.
Vou dar um passeio pelo lado selvagem.

Cachorro maroto

Enlaço palavras soltas que constroem o seu caminho na minha cabeça.
Amaldiçou-o a noite que caiu sem avisar, trazendo consigo o teu fantasma.

No meio do meu externo está o lugar vazio de onde arrancaste o meu coração.

Sinto-me incompleto.

Sacudi os grão de areia do cabelo e agasalho agora o corpo que outrora te pertenceu.
Agora sou meu. E não sei o que fazer.

O tempo trouxe de volta a menina com o seu cachorro maroto. Agarro-me às sua palavras e ouvidos para tentar perceber o “porquê”. Não consigo. O cão roi a minha canela, mas não sinto dor.

Apenas não sinto.
Mas Sinto-Te.
Aguardo os teus passos ao meu alcanço e repudiu essa mesma ideia, ao mesmo tempo.

Um cacho do teu cabelo emaranha-se no meu pescoço e lentamente vou deixando de respirar. Rendo-me à tua memoria. À maldade da vida, por te trazer de volta à minha cama.

Dou voltas. E voltas. Mas continuas de pé à espera que te olhe. Cubro a cabeça com o lençol, mas ainda te sinto.
Oiço ladrar e acordo do pesadelo em que tornaste as minhas noites.

Quero-te. Fora daqui. Fora de mim.