“Oiço o som do secador.
Está na hora.
Não me apetece começar tudo de novo, mas há muito que sei que não existe alternativa.
Prendo-me um pouco a ouvi-lo respirar, e permito-me levantar.
Passo a passo guio-me para a rotina aborrecida em que deixei que se tornasse a minha vida.
Oiço vozes. Troco palavras.
Dou por mim sozinha outra vez.
Do frio cai a questão: frango, porco ou vaca. Escolho o mais seguro.
Papeis, sirenes e uma maçã.
Sento-me com eles.
Será que eles sabem o quanto me orgulham?
Oiço a cada história, como se da mais importante se tratasse.
Às vezes deixo-me ficar a fixá-los e tento perceber o quão rápido se deixaram crescer.
Por vezes não reconheço estes seres humanos como aqueles bebés que deram luz à minha vida.
Conto-lhe o meu dia, na tentativa de levantar interesse.
As mesmas coisas, as mesmas pessoas, um sentimento parado no tempo onde a areia já não corre.
Sinto como se já tivesse gasto tudo o que há para dizer.
Torço o meu coração, mas já não há vida nova a sair.
Sinto-me ultrapassada. Sinto que já não precisam de mim.”
– Mãe!!!
– Han?! Já te disse que não sei do teu casaco!
– Ajuda-me. Sinto que não sei lidar com isto…E se não existir nada mais?
– Filha…os teus olhos grandes…seres tu própria…panelas e tampas…feliz…depois vais perceber… – É isto que repetes sempre que parece que vou cair outra vez, e todas as expressões, frases e conselhos guardo dentro de mim e mesmo quando grito é porque sei, integralmente, o que vai sair de ti.
Guardo tudo, como te irei guardar a ti.
Não apenas em mim, mas serei quem escreve sobre ti, quem falará da tua vida e a contará como tendo feito, orgulhosamente, parte dessa história, que de aborrecida não tem pitada.
Vou falar das 23:50 do dia 5, dos 49 cms, do teu cabelo loiro e dos gatos Chicos.
Vou fazer por te perpetuar como eterno agradecimento pela vida que me deste.