Trocaste-me o ar pelas palavras.
O vazio por te imaginar.
Por vezes as tuas palavras saíam como que uma bola de golfe contra a janela, outras faziam-me mingar de ignorância,
mas não consegui largar-te os dedos.
Aqueles dedos que nunca entrelaçaram os meus, aqueles que nunca me tocaram.
Soltavas como um balão palavras de outros que preenchiam as nossas.
E contaste-me histórias que não percebia se eram tuas ou reais.
Queria que o fossemos, mas não tive forças.
Nem para tentar, nem para o dizer.
Esperei que o lesses e que me encontrasses, mas não poderia ser uma luta de um homem só.
Enche-me de angústia saber o final de tudo,
o final que vou escrever.
Vou escorregando sem dares conta.
De forma lenta e viscosa por entre as tuas mãos.
No final é como se nunca tivesse existido,
não ficarão provas,
verás.